Duchamp suas edições e múltiplos em duas semanas de post!
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Marcel Duchamp Rrose Selavy
ready made Belle Haleine, Eau de voilette, photo-collage, 1921
Uma das mais conhecidas criações de Marcel Duchamp foi o personagem de Rrose Sélavy. Para tirar a ênfase da assinatura do artista como o locus principalmente de sentido para uma obra de arte, Duchamp veio com esse alter-ego em 1921. Continuar lendo
Duchamp readymade assistido, um barulho secreto 1916
A Bruit Secret, Um barulho secreto, outono de 1916 New York
Philadelphia Museum of Art, 11.4 x 12.9 x 13 cm
bola de barbante pressa entre duas placas de latão conectadas á 4 longos parafusos, ready made assistido, Coleção de Louise and Walter Arensberg.
Continuo lendo a bibliografia de Duchamp de Calvins Tomkins, com passagens e detalhes impressionates sobre a vida de Duchamp, que revelam muito dos trabalhos e segredos deste artista. E falando em segredos, com este trabalho de Duchamp posso entender um pouco melhor o conceito de um ready made assistido. Um barulho secreto foi produzido em parceria com o amigo e colecionador de arte Walter Arensberg. Duchamp instruiu o amigo Arensberg a retirar os parafusos e colocar algum objeto dentro do rolo de barbante, sem revelar a ninguém qual serie este objeto. O segredo se mantém até hoje, a única coisa que sabemos é que quando se balança o trabalho ele faz um barulho, que pode ser de moeda ou um diamante.
Readymades assistidos: são feitos com dois ou mais readymades juntos, isso retira a utilização funcional dos objetos, e cria um novo sentido para os objetos, a partir das diferentes peças e ou movimentos. O ready made assistido também pode ser um trabalho que necessita a participação de outra pessoa, como no caso de barulho secreto, com colaboração de Walter Arensberg.
Ready made, objeto dobrável de viajante, 1916/64
Objeto Dobrável de Viajante 1916/64 ready made, edição de 8 exemplares numerados e assinados Arthur schwarz Milão 1964.
Mais um ready made de Marcel Duchamp produzido em 1916 mesmo ano em que ready made Pente e o ready made assistido A bruit secret que veremos no próximo post, foram realizados.
“Trata-se da capa plástica de uma máquina de escrever, com o nome da marca, “Underwood” gravado na parte da frente. A capa é daquele tipo de plástico um tanto rígido, que tanto pode ser dobrada quanto pode ficar de pé sozinha, sem a máquina por baixo”.1 No entanto o ready made Objeto Dobrável de Viajante é normalmente exposto com uma base daquelas que sustentam cúpulas de abajur.
Quando questionado em 1953, por que escolheu esta capa de máquina de escrever, Duchamp respondeu: “Eu pensei que seria uma boa idéia para apresentar suavidade no Readymade – em outras palavras, não totalmente dureza da porcelana, ou ferro, ou coisas assim … Então, isso é porque a tampa da máquina de escrever veio à existência “(Schwarz 646). É verdade, assim como o título sugere, este ready made pode ser embalado, dobrado e levado em uma viagem.
Neste ready made vemos o deslocamento claro de um objeto cotidiano de seu contexto original e suas funções. A capa da máquina sem a máquina de escrever tem sua função negada. O espectador pode olhar debaixo desta capa que se transforma em uma saia, e de repente assume alguns significados sexuais.
“Colocada assim, ela se assemelha a uma saia, deixando clara a intenção do trocadilho: “Underwood” significa “Embaixo de Wood”, e é uma alusão a Beatrice Wood, namorada de Duchamp na época. Um objeto e uma palavra dão a idéia de que embaixo da saia de Beatrice existe algo que serve para escrever poemas. (As possibilidade de interpretação, como sempre, são infinitas)“ 2
1http://mundofantasmo.blogspot.de/2009/05/1006-duchamp-e-o-trocadilho-762006.html 11/03/2013
2 idem
Duchamp ready made retificado L.H.O.O.Q. 1919
Que Monalisa ou La Gioconda, 1503/06 de Leonardo da Vinci, é uma das pintura mais famosas do mundo ocidental todo mundo já sabe, mas quem fez o bigodinho e cavanhaque nesta imagem e apresentou isto como Arte, talvez ainda seja uma questão para você?
Já no início do século XX o quadro de Lenardo da Vinci, era famoso e cercado por muitas teorias, lendas, mitos e histórias, de que La Giocaonda na verdade era homen, que ela esta mais angustiada que sorridente, eu uma destas histórias envolve os artistas Pablo Picasso e Guilaume Apollinaire, que foram presos (Guilaume Apollinaire uma semana) sobre suspeita de roubo desta pintura do Museu do Louvre no ano de 1911.
Mas foi em 1919, ano que se lembrava os quatrocentos anos da morte de Leonardo da Vinci (1452-1519) que Duchamp comprou a reprodução barata da Monalisa na Rue Rivoli e acrescentou no rosto da esposa de Francesco del Giocondo, um bigode e um cavanhaque e abaixo da imagem como legenda escreveu: L.H.O.O.Q. que pode parecer a abreviação de algo, mas que quando lido em Francês tem a sonoridade elle a chaud au cul, em português ela tem o cu quente, revelando o trocadilho bem no estilo Tati quebra barraco(*)
Desde o início da primeira década do século XX Duchamp estava interessado em trocadilhos e jogos de palavras, como Octavio Paz observa, Duchamp se utiliza de métodos encontrados em Roussel que confrontava palavras de som semelhantes mas de sentidos diferentes para encontrar uma ponte verbal entre elas (1), o ready made retificado L.H.O.O.Q. aponta para as preocupações na obra de Duchamp envolvendo linguagens ironia, trabalho mental e artes plásticas.
Com este ready made retificado, Duchamp também homenageia Leonardo da Vinci pois, estes dois artistas possuem mais proximidades que distanciamentos. Como Leonardo da Vinci disse a pintura era coisa mental (3), o que Duchamp leva ao extremo em sua produção.
O ready made retificado L.H.O.O.Q. Duchamp mostra mais uma vez como sua obra é contemporânea, o que hoje frequentemente as pessoas fazem sobre cartazes (2) como ele mesmo disse.
*Tati quebra barraco famosa pelo hit do Funk Carioca, Dako é bom!
1Paz, octavio, Marcel Duchamp ou o Castelo da Dureza, editora Perspectiva 1977
2 Tomwins, Calvin. Marcel Duchamp Eine Biographie, Carl Hanser Verlag 1999
3 “A escultura é a arte de representar a matéria” Michelângelo
Duchamp secador de garrafas 1914/64
O ready made conhecido com Secador de garrafas ou suporte de garrafas, é considerado como um dos primeiros ready made de Duchamp. Mas o que é ready made…? Vou tentar apresentar diversas definições nos posts sobre Duchamp, mas de maneira simplista o ready made é a apropriação de um objeto produzido industrialmente, sem alterações ou intervenções do artista sobre o mesmo. Os objetos escolhidos por Duchamp eram objetos do dia-dia “sem valores estéticos”, com uso, funções e finalidades não artística, transformado em obra de arte a partir do deslocamento deste objeto para o museu. Este seria o conceito primeiro de um “ready made” mas vamos ver que este conceito é muito mais amplo e abrange ainda questões conceituais e sociais.
“Em alguns casos de ready made são puros, isto é passam sem modificação do estado de objetos de uso ao de “antiobras de arte”, outras vezes sofrem retificação e emendas, geralmente de ordem irônica e tendente a impedir toda a confusão entre eles e objetos artísticos“. Nesta frase do livro de Octavio Paz1 podemos ver a preocupação deste autor em diferenciar as obras de Arte, das “antiobras” de Duchamp. Pois a “Arte” neste período ainda era dominada pela pintura e escultura, marcadas pela feitura e pela habilidade do artista em produzir um objeto com artisticidade. Para se ter uma ideia a fotografia ainda era considerada uma forma de reprodução e não uma linguagem de arte, pois não apresenta a marca da mão do artista no produto final. Concepção ainda em via de ser superada, por muitas pessoas ainda consideram somente arte a criação manual ligada a artesania e feitura!
Bottle Dryer ou secador de garrafas, 64 cm, metal edição de 8 unidades numeradas e assinadas, 1964 Galeria Arthuro Schwarz.
Duchamp encontrou e comprou o secador de garrafas no Bazar de l’Hôtel de Ville, e a partir o fazer de uma “obra de arte” nunca mais seria a mesma
Os ready made são objetos anônimos que o gesto gratuito do artista pelo único fato de escolhe-los, converte em obra de arte. Ao mesmo tempo este gesto dissolve a noção de obra!1
Com esta ação se dissolve a noção de “obra” feita, e de originalidade da obra de arte, o ready made ao em invés de ser uma obra trabalhada em atelie, é mais um gesto do artista. É uma escolha. Uma proposição do artista.
1 Paz, Octavio in Marcel Duchamp e o Castelo da Pureza ed ELOS 1977 SP.
2 http://sheilaleirner.blogspot.de/search?q=duchamp
Duchamp, Roda de bicicleta comemora 100 anos!
Marcel Duchamp Bicycle Wheel (Roda de Bicicleta) 1913/1964, forca de bicicleta com roda sobre banco de madeira. Edição de 8 exemplares numerados e assinados. Este é um ready made assistido ( Assisted Readymades- apesar de Duchamp começar a usar esta definição somente a partir de 1915). Readymades assistidos são feitos com dois ou mais readymades juntos, isso retira a utilização funcional dos objetos, e cria um novo sentido para os objetos, a partir das diferentes peças e ou movimentos.
Duchamp criou esta obra em 1913 e passados 51 anos a roda de bicicleta teve a edição de 8 peças no ano de 1964, deixando de ser uma peça única e se tornou um múltipo!
De 1913 à 2013, um século de dúvida e extranhamento se passaram, e ainda é latente a contemporaniedade do trabalho de Duchamp, como se a roda de bicicleta tivesse sido feita por um artista contemporâneo. Talvez por esta e outras razões o trabalho de Duchamp é considerado contemporâneo, pois instiga a reflexão e pensamentos sobre nosso mundo atual, bem como influência artistas até os dias de hoje.
1 Francis M. Naumann, Marcel Duchamp: the art of making art in the age of mechanical reproduction Ludion Press, 1999
Duchamp, uma nova fase nas artes!
De volta aos múltiplos! Depois de um panorama sobre os múltiplos realizados por Man Ray, O Enigma de Isidore Ducasse 1920/1972, Vênus restaurada 1936/1971, Maske1974 e muitos outros, postados no mês passado, vamos ao artista que deu origem a esta linguagem artística, ao precursores dos múltiplos, o artista françês Marcel Duchamp.
Através dos múltiplos Marcel Duchamp propõe um modo diferente de se consumir arte. Vamos ver nesta serie de posts o que podemos considerar como sendo os trabalhos precursores dos múltiplos de Duchamp, sem confundir múltiplos com seus primeiros ready mades!
Marcel Duchamp, Caixa 1914
Existe um paradoxo na história da arte da primeira metade do século 20.
Apesar das possibilidades da reprodutibilidade do inicio do século gerados pela fotografia e outros meios de reprodução, o que se desenvolveu até o final dos anos 50 no universo da artes ainda estava voltado às buscas das especificidades das linguagens artísticas como pintura, escultura, e na valorização do artista como um gênio, representado por sua habilidades manuais e competências em representar e re-apresentar o mundo, a partir de seu ponto de vista individual e através de uma obra única, seja ela pintura ou escultura.
Um dos primeiros artistas a se dar conta das possibilidades que os meios técnicos fotográficos ofereciam, foi o artista Marcel Duchamp. Com seus múltiplos de arte chamados Caixas Marcel Duchamp da início a uma produção que iria alterar os valores e conceitos sobre a aura de uma obra de arte. “Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar, em todas as frentes, diante do valor de exposição (Walter Benjamin). E Duchamp atento às mudanças de valores que vinham desde o início do século cria o seu museu portátil a partir de fotos e depois com esculturas e múltiplos de seu ready mades.
No inicio do século em 1914 Marcel Duchamp depois de abalar as convenções e cânones das belas artes e das artes plásticas com seus ready mades como porta garrafas, e roda de bicicleta começa a pensar outros modos de atuar dentro do universo de artes se apropriando se seus próprios trabalhos através de fotografias, descontextualizando-os e re-contextualizando-os.
Marcel Duchamp cria o seu primeiro museu portátil ou múltiplos “a Caixa” 1914, com 3 exemplares (ou 5) para oferecer toda sua produção e uma caixa que viria se transformar em malas em suas próximas edições. A primeira Caixa incluiu 16 reproduções fotográficas de notas e manuscritos e o desenho Avoir l’apprendi dans lesoleil (abaixo). Nestas notas estavam elaboradas e detalhadas referências de todas as facetas de sua iconografia e de produção. Sim… em uma caixa de fotografia da Kodak, ele acomodou todo um período de idéias e conceitos de sua produção.
Neste mesmo ano Alemanha declara guerra a Franca, então Duchamp arruma suas malas e parte em 1915 para Nova York a convite de Walter Conrad Arensbergs a quem ele havia dado uma das primeiras caixas de presente no ano de 1914 quando este o visitou em Paris.
Duchamp continuaria a produzir mais series de caixas se utilizando de reproduções fotográficas e outros meios de reprodução para transformar sua obra em uma coleção particular que cabia em uma mala! Um pequeno Museu portátil indo contra todas as frentes teóricas da época que valorizavam o gesto do artista e obra única!
referencias: http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/anais3/bernadette_panek.pdf, http://www.studium.iar.unicamp.br/31/4.html, http://www.marcelduchamp.net
Múltiplos Duchamp, mas o que são múltiplos!?
Mais de 80 anos depois de Walter Benjamin teorizar sobre a reprodutibilidade técnica e a perda da “aura” da obra de arte, cá estamos nós abrindo um espaço para falar sobre os múltiplos.
Não exatamente falar sobre teoria, mas sim uma pesquisa aberta sobre: o que são os múltiplos, partindo de referências do que já foi feito, e do que atualmente se faz e se comenta em relação aos múltiplos, vamos apresentar imagens e ações que possam nos posicionar diante deste tema tão fecundo.
“Múltiplo é o que não é simples”1 foi o significado encontrado no dicionário e neste campo complexo partimos para tentar entender um pouco mais sobre o conceito de múltiplos.
Definições como a de Claes Oldenburg in Catalogue in Retrospect “eu entendo múltiplos como modo de referir a pequenas esculturas produzidas em larga escala” me parece ultrapassada e não vai ser simples definir um múltiplo.
Desde os anos noventa novos escritores e criticos procuram afinar o que define um múltiplo. Um Múltiplo dentro do universo das artes, se caracteriza por objetos pensados para serem produzidos em serie, industrialmente ou manualmente sem que exista uma peça original, mas que cada exemplar contenha a ideia que o artista quer propagar. “Multiplos quebram com categorias tradicionais da arte porque eles são edições que se parecem com o original” 2
A multiplicidade permite alcançar um publico maior ” O que é importante é o caracter de veiculação da edição, que alcança um grande numero de pessoas” Joseph Beuys.
O surgimento dos múltiplos esta ligado a emancipação da ideia de originalidade com implicações de criação e criador e o ready made de Duchamp é um dos primeiros trabalhos que vai sacudir a noção de Aura do original de originalidade. 3
Começamos com Duchamp um dos precursores do múltiplos, Marcel Duchamp criou a serie “Boîte en valise”, malas ou pequenas caixas que continham reproduções em miniatura de sua própria obra . Duchamp entre os anos 1935 e 1940 realizou a edição de Luxo de “Boîte en valise” com 20 exemplares que ele denominava um “museu portatil” série que depois foi reeditada.
Uma das obras da série foi vendida em 2008 por mais de 200.000 dolares pela Christie’s, uma das maiores empresas de leilão de arte do mundo, em Londres.
1 http://www.dicio.com.br/multiplo/,
2 Internacional Index of Multiples, Daniel Buchholz and Gregory Magnani 1993
3 Das Jahrhundert des multiple, Denise René